Revista Maitreya 049
7 negativo, se são as duas caras de uma mesma coisa? Penso que o erro mais grave, em nós, consiste precisamente em não sabermos olhar as duas faces de qualquer coisa, ou de qual- quer circunstância etc. Sempre vemos mais uma face, identificamo-nos com ela e sorri- mos; porém quando se nos apresenta a antítese da mesma, protestamos, rasgamos nossas ves- tes, trovejamos e relampejamos ; nós não que- remos, na verdade, cooperar com o inevitável e esse é, precisamente, o nosso erro. Às vezes, nos apaixonamos por um prato da balança e, outras vezes, pelo outro prato; às vezes, va- mos a um extremo do Pêndulo e, outras vezes, vamos ao outro, e, por esse motivo não há paz entre nós, nossas relações são péssimas, con- flitivas. A toda época de paz sucede uma épo- ca de guerra, e a toda época de guerra sucede uma de paz. Somos vítimas da Lei do Pêndu- lo, e isso é doloroso. A isso se deve, exata- mente, à tempestade de todos os exclusivis- mos, à luta de classes, os conflitos entre o ca- pital e aos trabalhadores etc. Se pudéssemos ver as duas faces de toda ques- tão, realmente tudo seria diferente; mas falta- nos compreensão. Se quisermos ver as duas faces de cada questão, faz-se necessário – à minha maneira de entender as coisas – viver não dentro da Lei do Pêndulo, mas dentro de um círculo fechado, um círculo mágico. Por esse círculo vão passando todos os pares de opostos da Filosofia: as teses e as antíteses, as circunstâncias agradáveis e desagradáveis, as épocas de triunfo e de fracasso, o otimismo e o pessimismo, o que chamam “ bom ” e o que as pessoas chamam “ mau ” etc. Ao redor desse círculo mágico, podemos ver um desfile muito interessante; descobriremos, por exemplo, que a toda grande alegria, sucede, em seguida, es- tados depressivos angustiosos, dolorosos. Quando as pessoas riem mais, as lágrimas são maiores e os prantos piores. Observem e vocês terão visto que tem havido, na vida, instantes em que todo mundo ri - a família -, que todos estão contentíssimos, que não há senão garga- lhadas e alegria... isso é uma coisa ruim. Quando alguém vê isso em uma família, pode profetizar – certo de que não vai falhar – que essa família aguarda um sofrimento em que todos vão chorar. Isso é certo, porque tudo é duplo na vida. Ao trejeito da gargalhada segue outro trejeito fatal: o da suprema dor e o do pranto. Os gritos de alegria etc. são sucedidos por gritos de suprema dor. Tudo tem duas faces: a positiva e a negativa, isso é óbvio. Este signo (de Gêmeos), por exemplo, o indica esoterismo. Suponham vo- cês, ou vamos refleti-lo aqui no chão. Obser- vem a sombra no chão. O que se vê? O diabo, isso é claro; e, entretanto, é o signo do esote- rismo, mas sua sombra, obviamente, tem a ca- ra do diabo. Em tudo na vida, não há nada que não seja duplo. Quando alguém se acostuma a ver as coisas a partir do centro de um círculo mágico, tudo muda, libera-se da Lei do Pêndulo. Em certa ocasião, quando tive o corpo físico de Tomás de Kempis, escrevi, em uma obra intitulada A Imitação de Cristo , a seguinte frase: “ Não sou mais porque me louvem, nem menos porque me vituperem, porque sempre sou o que sou ”. Isso é claro, tudo tem sua face dupla: o louvor e o vitupério, o triunfo e a derrota. Tudo tem duas faces. Quando alguém se acostuma a ver qualquer circunstância, qualquer coisa, qualquer aconte- cimento, de forma íntegra, única, com suas du- as faces, evita, pois, muitos desenganos, mui- tas frustrações, muitas decepções etc. Se al- guém trata uma amizade, um amigo, deve, pois, compreender que esse amigo não é per- feito, que tem seus agregados psíquicos, que a qualquer momento poderia passar de amigo a inimigo, o que, ademais, é normal. E o dia em que isso aconteça de verdade, o dia em que es- se acontecimento se realize, não passa por ne- nhuma desilusão, está imune. Isso é óbvio. Recordo quando comecei com o Movimento Gnóstico. Por aí, umas três ou quatro pessoas me seguiam e, na verdade, eu havia posto todo o meu coração nessas pessoas, lutando para ajudá-las, para que saíssem em corpo astral, meditassem no estudo da Gnose etc. Consegui fundar um pequeno grupo e esperava tudo, menos que alguém se retirasse do grupo, posto que tinha me dedicado a formar esse pequeno grupo com muito amor. Claro, quando uma pessoa do grupo se retirou, senti como se me houvessem cravado um punhal no coração. Então disse para mim mesmo: “ Eu lutei por este amigo, eu queria que ele seguisse pela Senda, como deveria ser; não lhe fiz nenhum mal, então, por que me traiu? Filiou-se a outra escola. Pensava tudo, menos que alguém que está recebendo os ensinamentos gnósticos pudesse filiar-se a outra escolinha. Entre- 7
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